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Hinduísmo e hinduísmos

O Hinduísmo não pode ser considerado como uma única fé, mas sim um mosaico de múltiplos caminhos, genericamente organizados em volta de quatro denominações principais – o Vaishnavismo, o Shaivísmo, o Shaktísmo e o Smartismo.

Trata-se de um coletivo de religiões, que partilham de princípios éticos, sociais, filosóficos e religiosos comuns, mas com identidades teológicas bem definidas.

Cada uma delas se distingue pelo conceito último que têm sobre a Deidade.

Para os Vaishnavas, Vishnu (ou Krishna) é o Deus Supremo, fonte de opulências infinitas e transcendentais. Para os Shaivistas, Shiva é o Deus Supremo, Senhor da natureza e imanente. Para os Shaktas, a deusa Devi, a mãe Natureza, é Suprema. Para os Smartas – os hindus ecléticos – a escolha e a concepção da Deidade são deixadas para os devotos. Porque, no final das contas, para eles, a realidade última é impessoal e pode ser adorada provisoriamente em qualquer forma.

O que caracteriza a identidade particular de cada um desses hinduísmos é sua postura metafísico-teológica. Metafisicamente falando, tem-se a questão: a realidade é uma ou muitas? Percebe-se a diversidade das coisas, mas, ao mesmo tempo, a mente é conduzida incorrigivelmente a uma unidade, quando concebe o “ser”, a “realidade” ou a “existência”.

Qual delas é real ou irreal – a percepção plural, a unitária, ou ambas? Em outras palavras, o que é real e o que é irreal – “diferença”, ou “identidade”, ou “ambas”? O problema se apresentaria da seguinte forma: A realidade possui uma dimensão transcendental e outra fenomenal. Seriam essas dimensões diferentes ou idênticas, ou as duas coisas?

Para responder essas questões, na tradição védica há três posturas filosófico-teológicas: a da “diferença”, a da “identidade” e a da “diferença na identidade”. Classificam-se, então, os sistemas filosóficos e as escolas hinduístas conforme sua identificação com três “teologias” a seguir:

Teologia da Diferença

“Diferença é real / Identidade é irreal” – Pode ser encontrada nos Samkhya, Yoga, Purva-Mimamsa, Vaisheshika e Nyaya; na escola Vaishnava do Dvaita-vedanta (“dualismo” de Madhva); e nas escolas shaivistas do Shaivismo Pashupata e do Shaiva Siddhanta;

Teologia da Identidade

“Identidade é real / Diferença é irreal ” – Faz lembrar o idealismo budista e é encontrada exclusivamente na escola Advaita-vedanta (“não-dualismo” de Shankara);

Teologia da Diferença-na-identidade

“Ambas são reais” – Encontrada nas escolas Vaishnavas Vishistadvaita-vedanta (“não-dualismo qualificado”, de Ramanuja); Svabhavika-dvaitadvaita-vedanta (“dualismo-não dualista natural” qualificado, de Ninbarka); Shuddhadvaita-vedanta (“não-dualismo puro”, de Vallabha), e Acintya-bhedabheda-vedanta (“dualismo-não-dualismo inconcebível”, de Chaitanya); e também encontrada nas escolas shaivistas do Trika-shaiva – Shivadvaita e Shakti-vishistadvaita.

Portanto, vista a complexidade que é o Hinduísmo e suas fontes, faz-se mister uma visão mais profunda do conhecimento perene que perpassa todas essas diferentes tradições. Para que se possa ir além de todo sectarismo, numa atitude madura de respeito à pluralidade de ação e pensamento, condizente com o grau de realização de cada um.

Isso está demonstrado pelas palavras de Krishna no Bhagavad-gita: “A todos Eu recompenso proporcionalmente ao grau de sua rendição a Mim. Ó filho de Pritha, em qualquer circunstância, todos seguem o Meu caminho” (Bhagavad-gita, 4.11).

(*) Loka Saksi Dasa é professor de Filosofia, Mestre em Ciência da Religião, pesquisador da Filosofia Védica e discípulo de A. C. Bhaktivedanta Swami.

sobre Michelle Rusche

Michelle Rusche é uma buscadora nata. Através da sua jornada interior vem desenvolvendo o seu propósito em ajudar as pessoas a trilhar o caminho da espiritualidade e do autoconhecimento. Jornalista, educadora ambiental, instrutora de yoga, realizadora do Portal Cosmos, entre outros.

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